Wendy and Lucy @ 2008 @ dirigido por Kelly Reichardt
“Wendy & Lucy” começa de uma maneira peculiar e minimalista, mostrando alguns vagões em movimento diante uma câmera estática. Tal iniciativa entra em contraste absoluto com a proposta do longa metragem (que não é tão longo assim), e ao mesmo tempo condiz com o que será mostrado.
“Wendy & Lucy” começa de uma maneira peculiar e minimalista, mostrando alguns vagões em movimento diante uma câmera estática. Tal iniciativa entra em contraste absoluto com a proposta do longa metragem (que não é tão longo assim), e ao mesmo tempo condiz com o que será mostrado.
Wendy (Michelle Williams) é uma jovem mulher que está indo em direção ao Alaska, em busca de melhores oportunidades financeiras. Suas únicas posses são o seu antigo carro, alguns suprimentos, um pouco mais de 500 dólares e sua cadela, Lucy, que é sua única companheira em todo o percalço. Ao passar por Oregon, seu carro quebra, e numa má sucedida tentativa de furtar alguns alimentos num mercado local, ela se vê detida – e o pior – Lucy desaparece.
O filme foi dirigido por Kelly Reichardt, roteirista e diretora bem falada no circuito alternativo de cinema, adaptado do conto “Train Choir” (coro do trem, em tradução literal) de Jonathan Raymond, que co-roteirizou o filme junto com Kelly. Bastante comentando em festivais de cinema, o filme gerou um merecido frenesi em torno de Michelle Williams, que chegou a ser cotada ao Oscar de melhor atriz no ano. Os méritos do filme, entretanto, não se resumem exclusivamente a tocante atuação de Michelle.
Wendy é uma figura extremamente simpática – meio andrógina, mas ainda assim extremamente doce, a personagem é o retrato perfeito da solidão. E quem melhor para ser amigo de um personagem tão solitário do que o “melhor amigo do homem”? A diretora aposta na química entre homem e animal, compondo um tocante equilíbrio em cena. Jogada em meio a figuras estranhas e carentes de hospitalidade, Wendy está cada vez mais solitária. Na cena em que tenta manter contato com sua família, por exemplo, podemos enxergar o quanto ela se sente excluída até mesmo por aqueles que carregam seu sangue.
Contado de maneira simples e minimalista, o filme é recomendado para aqueles que já passaram (ou que não subestimam) a força da solidão extrema. Filmado quase que inteiramente em tons frios, o filme nos obriga a simpatizar com Wendy, e muitas vezes eu quis entrar na tela só para poder abraçá-la. Num excelente trabalhado da Michelle Williams, ela consegue compor um personagem sozinho e ainda assim resistente, que não se importa em passar pelas mais difíceis situações em busca de uma meta, talvez por não ter mais nenhuma outra meta na vida, quem sabe – o que realmente é incrível é a fragilidade e condescência mostradas o tempo inteiro no olhar de Wendy.
Cru, simples, e de certa forma até mesmo poético – “Wendy & Lucy” é um filme que de alguma maneira consegue condensar todos esses adjetivos e ainda assim soar esperançoso. Carregado por um excelente trabalho da Michelle Williams, o seu desfecho pode desagradar alguns, porém há um mérito inquestionável no filme: ele pode não ser um divisor de águas, mas, sem sombra de dúvidas, é um filme extremamente verdadeiro.
8/10
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