domingo, 3 de julho de 2011

O Beijo da Mulher Aranha

Kiss of the Spider Woman @ 1985 @ dirigido por Héctor Babenco

Somos apresentados a uma pequena história, contada por alguém, de dentro de uma cela. As paredes dessa cela são repletas de curiosidades – desde as curiosas e saturadas peças de roupa às frases soltas, em português. Pouco tempo depois, descobrimos que quem conta a história é Luis Molina (William Hurt), um homossexual bastante afeminado que foi preso por manter relações sexuais com um menor de idade. A história está sendo contada para Valentin Arregui (Raúl Juliá), que está preso (e sendo torturado) por fazer parte de um grupo revolucionário de esquerda. Os dois dividem a mesma cela.

“O Beijo da Mulher Aranha” foi dirigido por Héctor Babenco, diretor brasileiro nascido argentino. O roteiro foi adaptado por Leonard Schrader a partir da obra de mesmo nome escrita por Manuel Puig. A trama do longa metragem nos apresenta um “filme dentro de um filme” – toda a história contada por Molina é mostrada ao espectador, e a brasileira Sônia Braga, neste que foi o filme que sedimentou sua carreira internacional, interpreta ao longo da projeção três mulheres diferentes.

É difícil dizer se o filme realmente se passa no Brasil, pois a ausência do português nos diálogos foi algo que realmente me deixou curioso. Fica claro, entretanto, que o filme se passa em algum país latino, visto que até mesmo as paredes das celas contém frases escritas em português. A presença de vários rostos brasileiros, entretanto, cria essa ilusão de filme nacional. A princípio a predominância do inglês foi algo que não gostei, mas com o passar do tempo a força do filme sobrepassa tal barreira, fazendo com que venhamos apreciar a história.

Milton Gonçalves está ótimo como o agente policial homofóbico que tenta forçar Molina a arrancar informações de Valentin. Herson Capri, Nuno Leal Maia e Miguel Falabella falando inglês já não conseguiram me convencer tanto assim, mas não comprometem o filme. É a dinâmica entre Molina e Valentin que realmente sustenta a projeção – e o diretor nos mostra progressivamente o quanto os laços se estreitam entre eles.

Desde os primeiros minutos sabemos que Molina é uma pessoa carinhosa e solitária – todas as suas investidas em Valentin ultrapassam o simples flerte – há um desejo maior ali, uma vontade latente de cuidar. A fragilidade em contraste com sua forma física é um dos grandes méritos da performance apresentada por William Hurt, que, não por acaso, lhe rendeu um Oscar de melhor ator. Valentin, entretanto, é o típico homem guerrilheiro que subitamente se vê preso ao lado de uma “bicha” (como ele mesmo diz, quando estoura). Seu senso de respeito, porém, é maior que tudo isso, e é linda a maneira com que os dois se abrem um com o outro (assim como também é triste ver quando os dois brigam). Em um determinado momento, seus crimes já nem são importante, pois vemos a humanidade presente em cada um deles. Sônia Braga também merece destaque por conferir um ar onírico à personagem das histórias de Molina. Ela interpreta também uma mulher que Valentin amou na vida real, assim como a “mulher aranha” do título.

“O Beijo da Mulher Aranha” acima de tudo, passa uma mensagem de amor e respeito que se mostram verdadeiras até hoje. Héctor Babenco conquista por sua incrível maneira de contar uma história. O filme foi indicado a quatro estatuetas no Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original e melhor ator. Um filme sincero, que se destaca em meios a tantas baboseiras lançadas pelo cinema nacional. E aqui mais uma vez a questão envolvendo a nacionalidade do filme, mas o que é que importa? É, acima de tudo, um lindo filme.

8/10

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