sábado, 28 de maio de 2011

Onde os Fracos não Têm Vez

No Country for Old Men @ 2007 @ dirigido por Joel Coen e Ethan Coen



Na década de oitenta, no oeste do Texas, um xerife lamenta pela crescente violência no local, que está transformando as pessoas, tornando os crimes verdadeiros atos de brutalidade. Esse pequeno monólogo abre o filme dos irmãos Coen, ao mesmo tempo em que vemos enquadramentos das paisagens locais, e a trilha sonora se acentua, prevendo o que está por vir.

“Onde os Fracos não Têm Vez” é baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy, e, como em alguns outros filmes dos Coen, sua trama envolve algumas questões envolvendo destino e circunstâncias. Llewelyn Moss (Josh Brolin), em uma caçada, acaba se deparando com uma mau-sucedida transação de drogas, com vários corpos e uma mala de dinheiro. Um assassino, Anton Chigurh (Javier Bardem) foi contratado para recuperar o dinheiro perdido. O xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) fica ciente de toda a situação, e recorre a Carla Jean (Kelly Macdonald), mulher de Llewelyn, em sua busca para salva-lo do assassino em seu encalço.

O roteiro do filme foi impecavelmente adaptado pelos irmãos Coen. Existem diálogos que já podem ser considerados memoráveis, como na cena em que Anton tem uma leve discussão com um vendedor local, ou até mesmo as cenas que envolvem pequenos monólogos encenados por Tommy Lee Jones. A brilhante fotografia de Roger Deakins aposta em tons amarelados e sépios, enquanto a direção de arte lança alguns figurinos com cores saturadas, o que resulta numa belíssima composição de cena, num maravilhoso contraste entre as belíssimas paisagens e os elementos de cena. Quando Llewelyn apanha o dinheiro, por exemplo, vemos uma tempestade se formar em pleno deserto. E quando o mesmo é visto e perseguido à noite, os Coens se preocupam em pôr a lanterna do carro que o persegue de um lado e um relâmpago na direção oposta, indicando que, não importando para onde ele vá, ele passará por uma tormenta.

Tommy Lee Jones merece aplausos por criar uma figura decente e honesta que, apesar de todos os esforços, percebe que foi passado para trás diante os rumos tomados pela sociedade – a injustiça está presente em todos os momentos, e o xerife é um dos poucos que percebem o quanto ela é implacável. Josh Brolin e Kelly Macdonald também encenam com competência os seus personagens (incrível como ela encarna o sotaque da Carla Jean, e nos bastidores retorna ao sotaque escocês). Mas, sem dúvidas, a força do filme se reside em Javier Bardem – desde a primeira vez que o vimos, sabemos que ele é capaz de matar a qualquer momento. Quando enforca o policial, por exemplo, ele demonstra satisfação de uma maneira tão aterrorizante que fica difícil acreditar que aquilo realmente não aconteceu. Anton é a encarnação da maldade, e mata por seus princípios (que os Coen brilhantemente não expõem durante a projeção) – e em sua feição há sempre um ar psicótico. E na já mencionada cena em que discute com um vendedor, ele, apenas com o olhar e com o tom de sua voz, deixa bem claro para o vendedor que ele será morto a qualquer momento.

Como de costume, o filme se encerra de uma maneira bem Coen – com um corte rápido, logo após algumas palavras importantes proferidas por um dos personagens (que não posso revelar) – e é justamente essa sensação de inquietação que torna um filme um clássico instantâneo, e devemos aplaudir de pé os Coen por terem conseguido realizar um filme de perseguição onde os três personagens principais em nenhum momento dividem a tela. Tudo que é mostrado, até mesmo os personagens, ilustram uma história bem maior, daquelas que fazem a cabeça de qualquer crítico especializado. “Onde os Fracos não Têm Vez” é um grande filme, e já nasceu clássico.

10/10

Um comentário:

  1. Adorei o filme e adorei sua crítica! Os diálogos do filme são ótimos... Tem uma cena, por exemplo, que Anton vai matar o outro assassino, mas antes de matar ele diz uma frase de foder: "Se a regra que você seguiu o trouxesse até aqui, que valor teria essa regra?" Muuuuuuuuuito bom!

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