segunda-feira, 6 de junho de 2011

Os Últimos Passos de Um Homem

Dead Man Walking @ 1995 @ dirigido por Tim Robbins



Matthew Poncelet (Sean Penn) está preso faz seis anos, aguardando execução por ter matado um casal de jovens. Os crimes foram cometidos com um comparsa, Carl Vitello (Michael Cullen), que, ao invés dele, pegou prisão perpétua. Enquanto aguarda a injeção letal, Poncelet entra em contato com uma freira, Helen Prejean (Susan Sarandon), e pede a ela que o ajude em um último apela à justiça.

O filme, escrito e dirigido por Tim Robbins (parceiro de Sarandon, na época), baseado no livro de mesmo nome lançando pela Irmã, é uma devastante história baseada em fatos reais, que simplifica a batalha do bem contra o normal ao retratar com tanto contraste os personagens principais. A irmã Helen, que até então nunca tinha feito uma intervenção parecida, passa por um verdadeiro vortex emocional – e o diretor abusa de tal questão para nos mostrar flashbacks da irmã ainda mais nova, quando ainda não tinha se entregado a doutrina religiosa, tendo consciência de que há sim um lado ruim em todas as pessoas. Poncelet, à primeira vista, é um ser desprezível: ele não hesita em se mostrar sexista, racista, nazista, dentre outros péssimos adjetivos – e intervir e ajuda-lo em sua atual situação é um verdadeiro teste de fé para Helen.

Tim Robbins mostra uma direção consistente e criativa: Quando Helen e Poncelet conversam pela primeira vez, vemos o rosto dos dois através da cela (desfocada) que os separa. À medida que eles se abrem um com o outro, a cela desaparece, mostrando que não há mais barreiras entre eles e que houve sim uma conexão. Um pouco antes dessa cena em questão, ao entrar na prisão, a Irmã é barrada por um detector de metais e quando os policiais vão investigar o motivo, foi a cruz que ela carrega no pescoço – uma jogada muito criativa que reforça a idéia de que até mesmo a religião é uma arma, e que, no corredor da morte, nem mesmo os religiosos podem fazer muita coisa.

Contando com uma fotografia eficiente (Roger Deakins, mais uma vez), os personagens tem suas tonalidades quase sempre um pouco saturadas. E os elementos de cena em contraste com os atores criam uma bela composição, como na cena em que a Irmã realiza uma visita a mãe de Poncelet e seu terno parece estar dialogando com todos os elementos na cozinha. O filme aposta em cores vivas do lado de fora da prisão, e dentro da mesma há sempre a mesma tonalidade – com cores estáticas.

Susan Sarandon e Sean Penn estão absolutamente incríveis: a irmã Helen é uma pessoa de coração enorme, que apesar da religião, não esconde seu gosto por pequenas piadas – e a atriz merece reconhecimento, por exemplo, nas cenas em que está dirigindo e interagindo com outros personagens de maneira tão natural, com o mesmo olhar gracioso. O seu encontro com Poncelet desestabiliza completamente o seu equilíbrio, e ela sucumbe diante de tanta dor pois, por mais que não queira vê-lo sendo executado, sabe que ele causou uma profunda e irremediável tristeza às famílias das vítimas, o que vai de completo encontro com suas crenças. Sean Penn apresenta uma das melhores performances da sua carreira, composto um personagem frio e burro, que não consegue esconder nos olhos o medo do que está por vir – Poncelet é instável e está completamente afastado da palavra do Senhor, o que traz o desafio a irmã de fazer com que ele se arrependa de tudo antes da execução marcada. A mãe de Poncelet, vivida por Roberta Maxwell, assim como os pais dos jovens assassinados também carregam uma profunda tristeza no olhar – excelente trabalho dos atores (Tem até o Jack Black bem jovem).

Com seus últimos momentos emocionalmente devastadores, “Os Últimos Passos de Um Homem” é um filme que provoca uma série de questões no espectador, e que, como é dito pelo próprio Poncelet, não se preocupa em ser religioso demais – é um drama profundo e verdadeiro sobre culpa, incapacidade e aceitação que não vai sair da sua cabeça por um bom tempo.

9/10

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